IV Domingo de Páscoa
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
Escutar e conhecer o Senhor são iniciativas pessoais que introduzem à vida espiritual e orientam para uma unidade interior
Domingo 29 Abril 2012
Ano B
Act 4,8-12; Sal 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18
O quarto domingo de Páscoa, domingo do Bom Pastor, tem o seu fulcro no Evangelho que, com a imagem de Jesus pastor, apresenta uma síntese do acontecimento Pascal, ponto culminante da história da salvação. No seu ministério Jesus foi pastor de um "pequeno rebanho" (Lc 12,32) expondo a sua vida até a dar por amor aos seus (cf. Jo 10,11-15: referência à morte de Cristo); a sua morte e ressurreição prolonga e estende o seu ministério de pastor, que cria comunhão e unidade, a nível universal (Jo 10,16-18: referência à ressurreição). E por força do acontecimento Pascal Ele é o "Bom Pastor", isto é, o pastor que dá a salvação, o único a quem cabe este título que, no Antigo Testamento, designa Deus em relação com o povo de Israel, no seu conjunto (Sal 80: “Tu, pastor de Israel”) e com cada filho de Israel, individualmente (Sal 23: “O Senhor é eu pastor”). A primeira leitura tirada, como sempre no tempo Pascal, (segundo a antiga tradição litúrgica) dos Actos dos Apóstolos, apresenta o anúncio da Ressurreição de Cristo no discurso de Pedro ao Sinédrio: as energias da ressurreição sopram na Igreja e, graças à fé, o nome do Senhor cura os doentes. A segunda leitura apresenta o cristão como filho de Deus regenerado pelo dom de amor do Pai.
O paradoxo cristão surge da revelação de Jesus como "Bom pastor", isto é, como único e autêntico pastor: Ele “dá a vida pelas ovelhas”, isto é, arrisca a vida, expõe-na aos perigos dos ladrões e dos animais ferozes, para salvar as suas ovelhas. E dá mesmo a vida, ao morrer pelos seus. Ele não é um mercenário, um assalariado, mas o pastor, ligado às ovelhas por laços pessoais e de amor. Não há nada de funcional na qualidade de pastor que Cristo vive: Ele está ligado ao Pai pela obediência e pelo amor (“O Pai conhece-me e Eu conheço o Pai”) e vive vinculado pelo conhecimento, amor e pertença com as ovelhas: “Conheço as minhas (ovelhas) e elas (ovelhas) conhecem-me”. Tudo se joga no plano da relação, não do papel nem da função, mas sobre o plano do amor e não do dever: “Ninguém tem um amor maior do que este: dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
A revelação do pastor torna-se também revelação da qualidade das ovelhas, ou, metáforas à parte, do crente que segue o pastor Jesus Cristo. O crente é aquele que conhece o Senhor e escuta a sua voz (vv. 14.16). Escutar e conhecer o Senhor são iniciativas pessoais que introduzem à vida espiritual e orientam para uma unidade interior. Mas são também ações eclesiais que permitem que o Senhor governar a sua comunidade e conduzi-la à unidade: “Tornar-se-ão um só rebanho e um só pastor”. O texto antevê um povo composto por pessoas, não apenas oriundas de Israel, mas também por gentios (“tenho outras ovelhas que não são deste redil"), que será fruto da Páscoa (“E eu quando for erguido da terra, atrairei todos a mim”: Jo 12,32) e que se realizará no eschaton (“o cordeiro os apascentará”: Ap 7,17). João apresenta Jesus como o pastor universal: só este título O justifica. É Jesus Cristo o “Pastor da Igreja universal dispersa por toda a terra”, como diz o Martirio di Policarpo (XIX,2). João fala da unicidade do pastor, que é Cristo, não do redil, como entende erradamente a tradução latina de Jerónimo (et fiet unum ovile) suscitando interpretações que viam nela uma referência à cadeira Petrina: “João não teria mais dito que Pedro era o único pastor!” (Ignace de la Potterie).
O vínculo entre Cristo “bom pastor” e a ressurreição emerge também da antiga arte funerária cristã que representa Cristo com uma ovelha às costas já nas antigas catacumbas e nas zonas de sepulturas: Ele é o pastor que conduz o homem, através da morte, à vida eterna, em Deus.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano B
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