Síntese e fotos do 10 de Setembro

O segundo dia concentrou-se no tema do Congresso sob outros dois pontos de vista, isto é, o monástico (as quatro conferências matutinas) e o antropológico-pastoral (as três conferências da tarde). A primeira conferência de Dimitrios Moschos (Universidade de Atenas) apresentou a figura de são Pacómio: sublinhou a centralidade do tema da misericórdia na experiência da Koinonia pacomiana, tal como a apresentam as Vidas do santo e os seus escritos. Para Pacómio a misericórdia jorra da cruz de Cristo e torna-se num acontecimento comunitário: a Koinonia pacomiana, como prefiguração da igreja escatológica, experimentou a misericórdia através do perdão recíproco, a organização das ofertas de solidariedade e a participação nos vários serviços comunitários. Também nos padres palestinos Barsanufio, João e Doroteu de Gaza – objecto da segunda intervenção feita por Alexis Torrance (University of Notre Dame, Indiana) – a autêntica misericórdia encontra a sua fonte em Deus e manifesta-se ao mundo através do Verbo encarnado: aqueles que se tornam irmãos do nosso “grande irmão” Jesus Cristo, os santos, chegam a partilhar a sua sede de misericórdia com todos e tornam-se seus intermediários. Mas para acolher esta misericórdia que vem de Deus e é mediada pelos santos, os padres de Gaza sublinham o papel do arrependimento e da humildade. A perspectiva da apokatastasis, ou reintegração universal, é segundo os padres de Gaza uma falsa imagem da misericórdia divina, precisamente porque anula a necessidade do arrependimento e da humildade de coração. Diferente e bem mais radical é a perspectiva de Isaac, o Sírio, no séc. VII, objecto da conferência de Sebastian P. Brock (Oxford): para ele, a imensidade do amor de Deus pelos homens é tal que a sua misericórdia não só supera a justiça mas a transcende ("Onde está, então, a justiça de Deus? No momento em que, “quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós"). O infinito amor divino é a chave hermenêutica para toda compreensão justa do tema e, neste sentido, para Isaac a salvação última será universal, extensiva a todos os seres dotados de razão, pelo facto que o amor de Deus não pode ser limitado pelo pecado. Finalmente, a última conferência, feita por Elena Romanenko (S. Pietroburgo), apresentou a figura di Nil Sorskij, monge russo de finais do séc. XV. Para Nil, a vida monástica é a mais alta manifestação da misericórdia de Deus pelo homem caído: o monge que recebeu esta graça deve fazer da sua vida um acto contínuo de arrependimento. A especialista debruçou-se especialmente na análise de uma oração atribuída a Nil que faz eco de um texto análogo atribuído a santo Efrém, o Sírio: o santo - num modo muito próprio - confessa os seus pecados declarando-se responsável até daqueles pecados que não cometeu. Considerar-se responsável de tudo e de todos é um elemento que permaneceu na espiritualidade russa sucessiva e, de facto, Nil Sorskij tornou-se um mestre do arrependimento e da humildade para os monges russos, tal como o é sto. Efrém, o Sírio para o monaquismo universal.

À tarde, após a saudação do bispo de Biella, Gabriele Mana, e a leitura das mensagens do secretário do Conselho Ecuménico das Igrejas e do arcebispo de Atenas, Hieronymos II, o teólogo e psicólogo Vassilios Thermos propôs-se a responder à questão "porquê é tão difícil perdoar?”, a partir da ’antropologia psicológica. Mostrou que o perdão da parte de quem sofre uma ofensa é a única via de salvação para quem cometeu a ofensa, é uma porta que se lhe abre para libertar-se de si mesmo e da própria incapacidade de tomar conta do outro. No entanto, um tal perdão salvífico é fruto de uma psique madura que, em contexto eclesial, compete aos pastores educar e promover.

Nesta mesma lógica, os dois conferencistas seguintes, Bassam Nassif (Universidade de Balamand) e Basilio Petrà, declinaram o tema das crises matrimoniais e o problema de como conciliar a indissolubilidade e a falência das uniões conjugais, respectivamente nas igrejas ortodoxas e na católica. Os dois intervenientes focaram a distância que tantas vezes existe de modo inevitável entre o ideal do matrimónio como sacramento, como mistério de “comunhão eucarística no corpo de Cristo” e as dificuldades da vida de casal. Ambos concluíram com um convite aos pastores das igrejas de encarnar a misericórdia e o cuidado paterno com que Deus educa à comunhão e ao perdão, sem condenar, mas também sem perder de vista a beleza do ideal.