A Política que redescubra os valores cristãos!

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PIERO GUCCIONE, Lua matutina

La Stampa, 2 Outubro 2011
de ENZO BIANCHI
Nunca foi fácil ser católico empenhado na política se levarmos a sério os três termos: "católico", "empenhado" e "política".

La Stampa, 2 ottobre 2011
di ENZO BIANCHI

Nunca foi fácil ser católico empenhado na política se levarmos a sério os três termos: "católico", "empenhado" e "política". Mas, nesta já longa vigência da II República, tudo parece ter-se complicado ainda mais: não porque tenha fracassado o partido dos católicos mas porque desde há quase duas décadas foram esquecidos ou contraditos alguns dados fundamentais que tinham guiado os leigos católicos no seu serviço à polis, pelo menos a partir do fecundo período constitucional republicano. Penso na autonomia das escolhas políticas, do assumir-se respondendo à sua própria consciência, da formação na escola da Doutrina Social Católica e nas indicações provenientes dos documentos conciliares; ou na perda da eloquência dos cristãos adultos, ignorados quando não silenciados ou ridicularizados por quem não perdia ocasião para se exprimir no seu lugar; ou ainda no pôr em discussão o próprio conceito de actividade política: a mediação, a negociação, a convergência para o bem comum que muitas vezes deve contentar-se em denunciar o mal e pôr-lhe um limite, escolhendo o bem possível em obediência aos princípios da democracia e da pluralidade da sociedade que se exprime com o critério da maioria, apenas.

Agora que as palavras claras da Presidência da Conferência Episcopal Italiana - uma vez mais recebidas por uns como tardias e por outros como interferências inoportunas, instrumentalizadas em benefício de terceiros - agitaram as águas, o pensamento de muitos comentadores parece convergir para uma só questão: caminhamos ou não para um novo partido católico? Creio que ao insistir nesta pergunta não se faça justiça aos bispos, que quiseram manter o discurso em termos pré-políticos, nem a alguns, poucos é certo, católicos leigos que ao longo de todos estes anos não pararam de procurar uma síntese concreta e fiável entre a sua fé cristã e as escolhas políticas e económicas a propôr a todo o País para uma melhor convivência civil. Isto não nega a afonia de tantos católicos, incapazes de se exprimirem e de se mostrarem inspirados pelo Evangelho, não nega a grave incoerência entre vida política e ética cristã mostrada por outros católicos e sobretudo, não nega que muitos deles teriam podido, há já algum tempo, sair do silêncio com eloquente paresia. Que tristeza sentir confessar, só agora: "talvez algumas palavras mais, nós católicos, poderíamos ter dito!".

O problema é muito mais amplo do que uma escolha de facções ou de alianças estratégicas: trata-se de uma renovada assunção de responsabilidades para com o colectivo que tenha em conta as novas condições sociais, económicas, demográficas e históricas na Itália e no Ocidente, muito longe de estarem estabilizadas. Diante dos novos desafios que a política em sentido lato - isto é a gestão da polis no presente com um olhar aberto às gerações futuras e a mente atenta às lições do passado - coloca, não apenas ao nosso País, mas à aldeia global de que agora fazemos parte, parece necessário, mais do que nunca, um espaço flexível de encontro entre os cristãos - talvez não apenas católicos... - aonde procurar discernir como conjugar as instâncias evangélicas com o dia-a-dia de uma sociedade que está muito longe de ser, na sua totalidade, cristã. Um lugar em que todos os que se preocupam com o bem comum e sentem possuir capacidades para o servir, possam formar-se com vista ao indispensável diálogo com quem não partilha as mesmas convicções de fé e de outras tantas inaludíveis acções comuns em sociedade e para o seu bem estar moral e material.

Quando il cardinal Bagnasco auspica «un soggetto culturale e sociale di interlocuzione con la politica che - coniugando strettamente l’etica sociale con l’etica della vita - sia promettente grembo di futuro, senza nostalgie napé ingenue illusioni», dovrebbe essere abbastanza chiaro dalle sue stesse parole che non sta propugnando un partito tanto meno progettando un governo ma, appunto, un interlocutore con la politica: una voce istiana che, come tale, possa anche manifestarsi articolata e modulata, farsi voce dei senza voce, porre parole e gesti profetici, anche a costo di risultare sgradita a molti. Da anni segnalo l’esigenza sempre più diffusa tra molti laici cattolici di un «forum», di uno strumento organico dei credenti in cui fare insieme opera di discernimento di problemi, situazioni critiche e urgenze presenti nella polis, per verificarle alla luce del vangelo e per smascherare al contempo gli «idoli» che sovente seducono anche i cristiani.

Una riflessione che resti tuttavia nell’ambito pre-politico, pre-economico, pre-giuridico: tradurre poi gli aneliti evangelici - realtà ben più esigente dei «valori», a volte così mutevoli nelle loro priorità - in concrete opzioni attraverso leggi e norme spetterà a quanti si impegnano all’interno delle diverse forze politiche, in modo conforme alla propria coscienza, alla storia personale e alla lettura delle vicende che hanno contribuito a rendere il nostro Paese quello che oggi è.

Forse in questo dovremmo essere anche più attenti alle esperienze di altri paesi, europei in particolare, dove la presenza e l’influenza dei cristiani in politica è meno preoccupata di etichette o di certificati di garanzia e più sollecita nell’esprimere i propri convincimenti con un linguaggio e un’azione capaci di essere compresi e condivisi anche al di fuori delle mura confessionali. Non si tratta di ricreare le scuole-quadri, ma di fornire opportunità di riflessione e di formazione di un’opinione il più possibile aderente al messaggio evangelico e al suo farsi carico di ogni essere umano, a partire dal più debole, povero e indifeso.

Sì, per tornare ai tre termini da cui abbiamo preso spunto, il rapporto tra un cattolico e la politica - basato sull’imprescindibile riconoscimento della laicità dello stato - comporta l’impegno, l’assunzione di responsabilità, la scelta consapevole di non ricercare successi o vantaggi personali, di non perseguire privilegi di sorta, nemmeno per conto terzi, ma piuttosto di percorrere giorno dopo giorno, magari mutando il passo e scegliendo nuovi sentieri, il faticoso eppur appassionante «camminare insieme» con tutti gli uomini e le donne di buona volontà, per il bene anche di chi volontà buona ne ha poca o nulla.

 ENZO BIANCHI

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