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A misericórdia de Jesus

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Paul Cezanne, Cristo (particolare), olio su tela, 1867
Paul Cezanne, Cristo (particolare), olio su tela, 1867
XVI domingo do Tempo Comum, ano B, 19 julho 2015
Mc 6,30-34

Reflexão sobre o Evangelho por Enzo Bianchi

 

Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus
e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Então Jesus disse-lhes:
«Vinde comigo para um lugar isolado
e descansai um pouco».
De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir
que eles nem tinham tempo de comer.
Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, que eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Os discípulos regressados da missão merecem ser chamados "enviados", "missionários", por isso Marcos define-os como "apóstolos" (apóstoloi): discípulos de Jesus que se tornaram seus enviados. 

Regressam para junto de Jesus que os tinha habilitado e enviado para a missão, regressam à fonte; Àquele que os tinha chamado "para que estivessem n'Ele" mais do que "para os enviar a pregar" (Mc 3,14). E “contam a Jesus tudo o que tinham feito e ensinado": ações e palavras que foram dadas por Jesus mas que, sobretudo, os apóstolos tinham aprendido a repetir estando com Ele, envolvidos na sua vida, vivendo com Ele como com um irmão. Sabemos em que consistia este seu serviço: no anúncio do Reino do Deus que vem, na conversão necessária, na prática de uma humanidade autêntica que se manifestava no encontro com as pessoas, no acolhimento, no dar confiança despertando a fé, na espera conjunta, na libertação, tanto quanto possível, das opressões que derivam da presença do mal no mundo. Marcos não diz que os enviados fizeram coisas extraordinárias, milagres, porque aquilo que era suficiente fizeram-no com obediência ao mandato de Jesus.  

Os apóstolos estavam cansados e Jesus, que tinha recebido a notícia da decapitação de João, o seu Rabino, triste, decide afastar-se da pregação em que estava empenhado. Diz então aos doze: “Vinde comigo para um lugar isolado (kat’ idian eis éremon tópon), e descansai um pouco”. Também para Jesus, como para cada um de nós, por vezes é preciso ter a coragem e a força de nos distanciarmos daquilo que fazemos, sair da agitação e do barulho das multidões, do turbilhão de afazeres que corremos o risco de nos devorarem. Trabalhar, empenhar-mo-nos seriamente e de corpo inteiro é necessário e humano mas também o é a dimensão do silêncio, da solidão, da quietude. Se sentíssemos no nosso coração este chamamento: “Fugi, fazei silêncio, procurai a quietude” (Ditos dos Padres do deserto, Série alfabética, Arsenio 2), seríamos certamente mais disponíveis para encontrar um “lugar deserto” no qual pensar, meditar, escutar o silêncio, o nosso coração, as vozes diversas com que Deus procura falar-nos. Sem observarmos esta exigência caímos na superficialidade, dispersamos e acabamos por viver sem saber para onde vamos.

Mas a multidão que desde há dias O segue junta-se a Ele, ou melhor, chega primeiro do que Ele àquela margem deserta do lago. Jesus desembarcando vê-os e observa-os com atenção: não se deixa levar pela satisfação e pelo sucesso de tanta gente o procurar mas comove-se com uma compaixão visceral (verbo splanchnízo). As suas víscera comovem-se como as de Deus no confronto com o seu povo oprimido (cf. Os 11,8); Ele comove-se com emoção pelo amor que tem para com aquelas pessoas. São pessoas incrédulas que procuram Jesus com ambiguidade e interesses não evidentes mas que, para Jesus, merecem compaixão. São "ovelhas sem pastor", não têm ninguém que lhes dê de comer, ninguém que tome conta delas, ninguém que lhes dirija a palavra para as erguer na árdua tarefa de viver e ninguém que as ajude diante das suas dúvidas e contradições. Jesus enternece-se e revive a compaixão de Moisés quando vê o seu povo sem pastor (cf. Nm 27,17), a compaixão dos profetas que sofrem ao ver o povo de Deus disperso e os pastores maus a explorarem-nos (cf. 1Re 22,17; Ez 34,5).

Não resta alternativa a Jesus do que a de se fazer “bom pastor” (Jo 10,11.14) daquela multidão: obedece e faz o que Deus quer que seja feito em seu nome, pelo Filho enviado ao mundo. Em primeiro lugar Jesus lê a fome daquelas pessoas, fome de que, talvez, não estejam conscientes, fome da Palavra: querem que Jesus ensine, isto é, que lhes fale da Palavra como Marcos diz noutra passagem (cf. Mc 2,2; 4,33). O que é decisivo é que Jesus esteja lá e lhes fale porque Ele é a Palavra de Deus (cf. Jo 1,1.14). Jesus fá-lo longamente como se estivesse sobre um jugo: o jugo da misericórdia que o empurra para esta compaixão, este esforço, esta Palavra para com todos  os que suscitam n'Ele sentimentos de misericórdia. Tinha tido misericórdia dos apóstolos que regressaram cansados e tinha-os convidado a repousarem mas, agora, a misericórdia da multidão interrompe esse repouso. Só a misericórdia o guiava e determinava o  comportamento e as ações do seu caminho.

Este é um ensinamento para nós: em cada decisão que tomamos, em cada escolha necessária e boa o que deve ser primordial é a Misericórdia. Se cada escolha e cada ação não obedecerem antes de tudo à misericórdia, não são conformes “ao sentimento de Jesus Cristo” (Fil 2,5): sentimentos humanos mas mais profundamente sentimentos de Deus, aquele que é Santo e que mostra a sua Santidade no meio do seu povo com a compaixão, escolhendo que, no seu coração, reine a misericórdia sobre a justiça (cf. Os 11,7-9). Nós pastores de comunidades devemos interrogar-nos bastante sobre esta disponibilidade em dar prioridade às questões da comunidade relativamente às nossas escolhas e às nossas boas iniciativas. Devemos interrogar-nos se, em nós, a misericórdia, isto é, o amor visceral de compaixão, está sempre imanente em relação à justiça que queremos viver e anunciar. Não nos esqueçamos: no Cristianismo não se dá justiça e misericórdia mas apenas misericórdia na justiça ou justiça na misericórdia.

Antes de dar o pão Jesus dá a Palavra para saciar os homens e mulheres que O seguem. Mas em breve dará também o pão.