XI domingo do Tempo Comum
Assim como aceita o convite de Simão, assim Jesus acolhe a mulher pecadora (uma prostituta) que se intromete no banquete e que se manifesta com gestos "pouco comuns" o seu amor por Jesus. Para que o encontro aconteça importa que o outro seja deixado livre, capaz de se exprimir como é capaz e está habituado. Jesus acolhe a linguagem que esta mulher conhece: linguagem não verbal mas corporal (ela toca, beija, chora sobre os pés de Jesus, enxuga-os com os seus cabelos e unge-os com perfume). Aquele corpo, até então, objeto de luxúria masculina, torna-se sujeito de amor, aquele corpo comprado mostra-se capaz de gratuidade. O amor é corajoso e esta mulher ousa a sua capacidade de amor correndo o risco de ser desprezada e julgada, como não pode deixar de acontecer na casa de um homem religioso e irrepreensível (cf. Lc 7,39).
O juízo, em que se refugia Simão, seja sobre a mulher (“saberia de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora”: Lc 7,39) seja sobre Jesus (“Se este homem fosse profeta”: Lc 7,39), talvez não seja mais do que a expressão do medo de amar, de deixar-se levar pelo amor, de ousar a única coisa verdadeiramente sensata da vida: amar. Ao fariseu Simão acontece o que frequentemente acontece aos homens religiosos: veem apenas o pecado onde está o amor. E Jesus sabe ver o amor, o grande amor desta mulher que, aos olhos dos "justos", é, apenas, uma "pecadora".
A linguagem usada por Lucas mostra que esta mulher, com as suas lágrimas e os seus gestos de amor, está a viver o seu ser discípula: o seu estar "atrás" de Jesus (Lc 7,38; cf. 9,23; 14,27) e “aos seus pés” (Lc 7,7.38; cf. 10,39; At 22,3) fá-la discípula. Ser discípulo é estar atrás de Jesus para O seguir e aos seus pés para O escutar, mas as formas deste caminho e desta escuta não são iguais para todos, mas diversos e pessoais, inerentes ao mistério de cada pessoa. E Jesus sabe ver não apenas o amor, mas também a fé (Lc 7,50), lá onde os homens religiosos encontram apenas motivo de escândalo. De resto, em Lc 8,2-3, o Evangelista relata uma tradição que fala de uma comunidade de discípulos e discípulas que seguia Jesus: não apenas os doze, mas também algumas mulheres, de que se recorda ainda alguns nomes. Está aqui o paradigma de uma comunidade cristã, composta por homens e mulheres, que não conhece discriminação de gênero.
LUCIANO MANICARDI
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano C
© 2009 Vita e Pensiero
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