III Domingo de Quaresma
“Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz…” (Jo 4,10). Ninguém é apenas uma etnia ou uma categoria social. Da polaridade agressiva e hostil “nós” – “vós” (cf. Jo 4,20), passa-se ao envolvente “eu” – “tu”. Jesús chega a dizer-se e a dar-se com as palavras: “Sou Eu, que estou a falar contigo” (Jo 4,26). Jesús vence as barreiras identitárias que os Homens erguem e que, quando sedimentadas, se tornam por um lado uma segunda pele, uma identidade colada e, por outro, a lente (deformadora) com que vemos os outros rotulando-os com as nossas definições ou aprisionando-os com as nossas categorias. A identidade não é um dado fixo, antes surge do encontro com o outro.
Momento importante no itinerário do encontro é aquele em que Jesús convida a mulher a passar da pergunta que lhe fez à interrogação que Ele próprio é (cf. Jo 4,10). O verdadeiro diálogo não impõe, mas suscita e aumenta o interesse recíproco. Nutre-se de perguntas novas mais do que respostas claras e definitivas.
O texto apresenta uma pedagogia para a fé em que a mulher reconhece Jesús como profeta (v. 19) e Messias (vv. 25-26.29) e assim se torna discípula, anunciadora de Jesús salvador do mundo (vv. 28-30.39-42). A mulher torna-se crente e evangelizadora. Mas, o caminho do reconhecimento de Jesús, como Senhor, implica um caminho contemporâneo de conhecimento de si mesmo em que, também, os aspectos moralmente mais problemáticos, aqueles que normalmente uma pessoa tem dificuldade de confessar a si própria, são reconhecidos.
Só assim o encontro acontece na verdade. Ponto culminante e de verdade deste encontro é o momento em que a mulher recebe de Jesús a descrição de tudo aquilo que ela fez (v. 29). A história que ela escondia, por vergonha, a si própria, é substituida por outra que a acolhe e não a julga, levando-a a aceitar-se e a conhecer-se diante de Jesús.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero
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