XX Domingo do Tempo Comum
Os motivos pelos quais Jesús é relutante na resposta ao pedido da mulher são de ordem teológica: a história da salvação implica que Ele cumpra a sua missão junto do Povo de Israel e não dos Pagãos. Mas a escuta do sofrimento do outro corrige esta, correcta mas abstracta, perspectiva teológica da história da salvação por uma mais concreta e humana praxis de salvação das histórias; em primeiro lugar, das histórias pessoais e familiares, sempre precárias e atravessadas por dramas e sofrimentos. Inserindo-se na perspectiva da história da salvação adiantada por Jesús (os filhos de Israel diferentes dos "cães", os não-hebreus), a mulher cananeia introduz a metáfora da casa e da mesa a que “os cães domésticos" têm acesso, com os filhos e como matam a fome com as migalhas dos filhos, legítimos comensais. Os cães e os filhos, os não-judeus e os judeus, têm uma única casa e uma única mesa. A observação genial da mulher converte e dá plenitude à perspectiva de Jesús: numa única casa e em torno de uma única mesa é possível uma refeição entre os filhos de Israel e os estrangeiros em que a primazia de Israel (os filhos) é reconhecida e reenquadrada.
Jesús reconhece a fé do outro e fia-se: “Grande é a tua fé, faça-se como tu queres” (Mt 15,28). E confiança é o aspecto humano da fé. Criar um clima de confiança na Igreja é essencial para que as pessoas possam vencer o medo e viver a fé numa casa comum em que nenhum seja estrangeiro e hóspede, mas todos sejam familiares de Deus (cf. Ef 2,19). De resto, na comunidade cristã “não existe nem judeu nem grego … mas todos são um, em Jesús Cristo” (cf. Gal 3,28).
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero
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