XXII Domingo do Tempo Comum
A cruz é sempre escândalo: só integrando o escândalo da cruz no nosso caminho de fé, podemos evitar ser, nós próprios, motivo de escândalo para o Evangelho e de nos escandalizarmos com a crucificação do Messias (cf. Mt 26,31: “Todos ficareis perturbados por minha causa”). Pedro, na sua revolta contra a cruz de Jesús, exprime um comportamento de repulsa que, muitas vezes, é o nosso comportamento, que nos leva por um lado a confessar a fé e por outro a negá-la na prática. A cruz é o elemento mais radicalmente estranho ao "mundo": o Pedro que se rebela contra ela mostra o seu conformismo mundano, o seu ser conforme aos parâmetros e aos critérios da mundanidade, o seu pensar e o seu sentir conforme aos homens e não a Deus.
As palavras de Jesús ao discípulo falam da necessária perda de si, da sua própria vida, para a encontrar (cf. Mt 16,24-26). Exigem, portanto, um renegar de si mesmo, parar de conhecer-se, sair de uma vida auto-centrada, da procura de auto-justificações, para encontrar-se como dom e alcançar, pela graça, a verdadeira vida. Trata-se de uma passagem Pascal da vida como posse e como poder, à vida como dom e graça. É a vida vivida em Cristo e por Cristo, é a vida de Cristo em nós: "Quem quiser salvar a sua vida , vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la" (Mt 16,25). "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?" (Mt 16,26). O texto deixa antever a situação de todos os homens tentados a possuir, a ampliar o campo de acção para fora de si, a acumular, falhando a vida, perdendo-se. Talvez isso aconteça para não se encontrarem a si mesmos, para não entrarem no doloroso face-a-face consigo.
Seguir Cristo significa colocar a nossa vida na Sua vida, por amor. O que por amor se perde, na realidade não é perdido, mas oferecido. E o que é oferecido por amor é encontrado na relação.
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero
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