Nascimento de S. João Batista
There was a problem loading image 'images/stories/priore/evangelodelladomenica/thumbnails/thumb_giovannibattista-copy.jpg'
There was a problem loading image 'images/stories/priore/evangelodelladomenica/thumbnails/thumb_giovannibattista-copy.jpg'
Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
João, cujo nome significa “o Senhor faz-se Graça”, é filho da velhice e filho da Graça. A velhice dos pais e a esterilidade da mãe são o leito da impossibilidade em que se desenvolve a Graça do Senhor e a sua misericórdia:"Os seus vizinhos e e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela." (Lc. 1, 58)
domingo 24 junho 2012
Ano B
Is 49,1-6; Sal 138; Act 13,22-26; Lc 1,57-66.80
O nascimento de João Batista ilumina os outros textos bíblicos: o texto de Isaías torna-se profecia (“E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser seu servo,...": Is 49,5), enquanto o trecho dos Actos é uma síntese do ministério de João e remete para o seu "novo nascimento", se assim podemos chamar ao seu apagamento para que o Messias, de que ele é o precursor, "possa crescer" (cf. Act 13,25). A importância capital de João na economia cristã está patente no facto que apenas dele e de Maria (para além, obviamente, de Jesus) a Igreja celebra liturgicamente o nascimento.
João, cujo nome significa “o Senhor faz-se Graça”, é filho da velhice e filho da Graça. A velhice dos pais e a esterilidade da mãe são o leito da impossibilidade em que se desenvolve a Graça e a misericórdia do Senhor:"Os seus vizinhos e e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela."(Lc 1,58). João, com a sua vinda ao mundo, narra a misericórdia de Deus aos seus pais: o seu nascimento é para Zacarias e Isabel um dom inesperado que ultrapassa todas as esperas e previsões. E a experiência da Graça, quando habitamos a impotência e a impossibilidade, infunde coragem. A coragem com que Isabel, contra as tradições familiares e práticas sociais, dá o nome de "João" à criança e com que Zacarias apoia a mulher enfrentando as contestações dos parentes. De onde vem a coragem daquela velha senhora a que todos chamavam "estéril" (Lc 1,36) e a lucidez amorosa do velho sacerdote silenciado? Talvez seja a coragem que nasce quando se vence a tribulação, por se ter sido humilhado e posto à prova, chegando a conhecer aquilo que na vida de fé é verdadeiramente essencial: a misericórdia de Deus.
Os pais de João são Homens que a vida fez pobres e humildes: são "pobres por si", "pobres de espírito", isto é pessoas livres que não têm um ego para defender, que sabem ver a realidade e ver-se a si próprios com olhos simples e com um olhar puro, não inquinado. Esta lição do essencial, daquilo que é verdadeiramente precioso, é muitas vezes aprendida por aqueles que conheceram o cansaço, a dureza da vida e a suportaram com paciência. E conhecer o essencial dá parresia e força, capacidade para afrontar com liberdade e coragem obstáculos, contestações e desconfianças.
João é também filho da fé demonstrada. Isabel e Zacarias eram “justos diante de Deus” (Lc 1,6) e permaneceram justos no meio das tribulações. Nós pensamos naturalmente que tenha sido difícil para eles discernir a justiça de Deus: a razão daquela esterilidade? a razão daquela velhice sem futuro? João é também o filho desta fé perseverante, desta fidelidade que nos pode parecer um pouco louca ou heróica, mas que para ambos os pais era apenas o caminho que deveria ser precorrido sem histórias nem lamentações, sem acusações contra Deus ou contra a injustiças da vida.
É certo que Zacarias conheceu altos e baixos na fé: nele o mutismo e o uso da palavra acompanham respetivamente a incredulidade e a fé (cf. Lc 1,18-20; Lc 1,63-64). Impossibilitado de bendizer o povo no final da liturgia no Templo (cf. Lc 1,22), ele bendiz Deus tendo reconhecido a sua intervençao (cf. Lc 1,64). Crer na intervenção abençoada de Deus na miséria da própria vida, é a condição para transmitir aos outros a benção de Deus.
Na relação pais - filhos, gerar implica também dar o nome. E dar o nome é fazer uma promessa e atribuir uma tarefa: tu viverás a tua vida, viverás no teu nome, realizarás a tua unicidade. Dar o nome é exercer um poder e uma autoridade dispondo-se a despojar-se dessa autoridade e desse poder.
Se João vai crescer no deserto (Lc 1,80) e no deserto desenvolverá o seu ministério e a sua pregação anunciando a eminência do Reino e a visita de Deus, ele era já filho da intervenção de Deus no deserto simbólico da velhice e da esterilidade dos seus pais. E como os seus pais souberam aprender o essencial do que sofreram, também ele saberá discernir e mostrar o essencial aos seus contemporâneos indicando o Messias em Jesus de Nazaré.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano B
© 2010 Vita e Pensiero